sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A fuga da intimidade



Que somos seres egoístas e individualistas, não é de hoje que nossa consciência já nos alertou. Mas não é por isso que me impressiono menos com as situações e com a capacidade que ser humano tem de fugir de situações altruísticas.
Solteirões aos 40 anos, mulheres chamadas "independepentes" (leia-se aqui "que não precisam de homens para serem felizes"), a onda do "só ficar", o medo de envolver-se, pessoas com problemas de relacionamento no ambiente de trabalho, etc.
Claro que sempre fomos assim, buscando nosso sucesso individual, preocupando-nos conosco mesmos acima de qualquer coisa e buscando satisfação sem dor. Isso é humano.
Mas hoje, me parece que a sociedade do vazio instalou-se. A busca por não se sabe o quê, o emprego que não satisfaz, a procura pela utópica alegria constante, a privacidade sem exposição, o amor que nunca chega.
Os consultórios de Psicologia estão repletos que pessoas com a síndrome do vazio. "Tenho tudo e não sou feliz"; "Estou triste, não sei com o que". E há ainda aqueles que conseguem verbalizar o aperto no peito, o vazio, mas que não sabem o que fazer com isso nas mãos.
Há uma intensa fuga de relações íntimas. Seja por falta de investimento ou por medo de envolvimento, os relacionamentos estão mais fugazes hoje. Não falo somente de relações amorosas, mas de relações em geral.
Colegas de trabalho que não sabem nada da vida pessoal do outro (se é casado, se tem filhos, se mora na mesma cidade); colegas de aula de quem nem sabe o nome; casais que se encontram "na noite" e não fazem questão de manter contato posterior.
Situações simples, mas que nos mostram o quanto o contato com o outro já não é mais importante e também não é mais nossa prioridade.
Por que não nos interessa saber um pouco mais sobre as pessoas? Será que isso não nos ajudaria a entender o porquê de algumas dificuldades que elas têm? Isso nos tornaria mais vulneráveis ou menos profissionais?
Tentando evitar o sofrimento, muitas vezes sofremos de outra forma e, nesse caso, de privação. Privação dos bons momentos que a intimidade e o envolvimento com o outro pode nos proporcionar.
Sofrer, é inevitável.

Um comentário:

  1. E assim vamos nos acostumando a viver praticamente como robôs.Evitando sentimentos que fazem parte da nossa evolução como seres humanos.
    Belo texto!

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