domingo, 27 de junho de 2010

O tempo e as mudanças


Hoje acordei pensando nas mudanças que vêm com o tempo. Pequenas coisas, grandes coisas, coisas tão sutis que só nos damos conta quando, depois de muito tempo pensamos nelas como eram no começo.

Às vezes passamos uma vida esperando por uma mudança que jamais chega, porque, na verdade quando ela chega, já não é mais a mudança que esperávamos. Vai entender o ser humano...

Estamos em constante mudança. As idéias mudam, as feições mudam, os sentimentos mudam. Mas na maioria das vezes é mais fácil apontar essas mudanças nos outros. Mudar não é um processo fácil. Ele nos exige admitir que não somos tão controladores de nossas vidas como gostaríamos. O tempo e a vida nos mudam e isso é inevitável!

Quando recebo um paciente pela primeira vez, escuto suas queixas e questiono o que é esperado do processo terapêutico, invariavelmente escuto: "Quero que as coisas voltem a ser como eram antes."
Como se fosse possível apagar as marcas que as coisas e o tempo deixam em nós. E como se, depois dos eventos de vida que nos afetaram, pudéssemos ser os mesmos!
Trabalhar essas mudanças é um exercício.

Será que estamos prontos para receber as mudanças que estão acontecendo ao nosso redor? Será que não estamos ainda presos aos eventos passados e olhando na direção errada?
Se estivermos olhando para a pessoa que fomos antes (antes do namoro, antes do emprego, antes do casamento, antes da morte do fulano, antes...) estaremos enxergando uma outra face nossa. Face essa que já foi, que não volta mais, que se transformou no que somos hoje.

Estamos dispostos a olhar por essa perspectiva? Será que estamos prontos para causar a mudança que gostaríamos na nossa vida agora?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Aprendendo a enxergar as pessoas


Hoje de manhã, caminhando pelas ruas da minha cidade, deparo-me com um grupo incomum e ao mesmo tempo tão familiar para mim. Eram pacientes que eu atendi durante meu estágio enquanto ainda era estudante de Psicologia. Até ai, nada de fascinante.

Chamou-me a atenção a última integrante que passou por mim. Abriu um sorriso e com um protagonismo jamais visto enquanto eu trabalhei com ela, respondeu-me "Tudo bem!".
Durante um ano e meio de trabalho junto à instituição, posso dizer que raramente vi um sorriso tão genuinamente livre e uma naturalidade tão espontânea nessa pessoa.

Ela, antes "deprimida", desacreditada, apagada e sufocada pelas paredes da instituição, parou de investir na própria vida e passou a esperar dos profissionais, uma atitude que ela já não podia tomar.

Hoje, vejo apenas uma mulher caminhando pela rua. Uma mulher que conversa, que ri, que pensa... Num momento tão curto onde nos cumprimentamos, percebi que ela tentava me dizer que as coisas tinham melhorado para ela.

Pergunto-me, melhoraram? Talvez sim, talvez não.
Importante mesmo foi poder vê-la como alguém que produz, que deseja, que sente, que vive, que existe e que quer ser vista pelos outros, como qualquer um de nós.

Às vezes olhamos para as pesoas e vemos apenas seu sofrimento, suas queixas, suas negações e projeções, sua loucura ou lucidez, sua deficiência ou suas particularidades negativas. Esquecemo-nos que esse sujeito também é produtivo e espera poder (re)tomar seu protagonismo e continuar sua trajetória.

Olhar para essa pessoa apenas como uma mulher como qualquer outra, me fez perceber que não basta acolhermos o sofrimento, servirmos de apoio, auxiliarmos na reorganização desses sujeitos, precisamos também olhá-lo.
Olhá-lo de verdade, sabendo que cada um de nós possui potencialidades que muitas vezes estão esperando o olhar do outro para revelarem-se.

E você, já olhou para a pessoa que está do teu lado? Enxergou, de verdade?